Filhos | Como evitar que os medos comuns da infância se tornem patológicos



É natural que a criança se assuste com coisas que nunca teve contato antes ou que ainda não compreenda. Medos que são diferentes dos enfrentados pelos adultos. “Enquanto nós geralmente tememos situações reais, a criança mistura o real com o fantasioso”, explica a psiquiatra da Infância e adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP, Danielle Admoni.

Até certo ponto, o medo é útil para a criança. É uma proteção instintiva que a permite decidir se pode enfrentar uma determinada situação ou fugir dela. “Com o tempo e o desenvolvimento, ela aprende a discernir quais medos são reais e o que pode ser uma ameaça ou não”, diz a médica.

Entretanto, em alguns casos, o medo infantil pode se tornar excessivo e até patológico. Segundo a psiquiatra, a distinção entre medo “normal” e medo “patológico” é muito importante para evitar interferências no desenvolvimento da criança e repercussões na vida adulta.


Quando se preocupar?
O medo é patológico quando se apresenta de forma intenso e desproporcional ao risco real e quando não corresponde à idade da criança “Pode haver medo de coisas que fogem do comum e que não há histórico para justificar; medo invasivo, que interfere na alimentação, no sono e nas atividades diárias e que não cede após manobras de distração ou tranquilização”, informa.

Isso vale para medos que duram mais de seis meses e associado a sintomas físicos, como tremores, batimentos cardíacos acelerados, respiração ofegante, tonturas, irritabilidade, choro inconsolável etc.

A criança regredir em comportamento – como voltar a usar chupeta – é outro sinal, assim como ações obsessivas e compulsivas. “Como necessidade de verificar, de forma repetitiva, se portas ou janelas estão fechadas”, exemplifica a especialista.


O que fazer?
Até os três anos, as crianças estão aprendendo a lidar com emoções e podem se assustar com escuro, barulhos, luzes fortes e pessoas fantasiadas. Se notar desconforto ou ansiedade, leve-a a ambientes mais tranquilos e passe para os mais agitados de forma gradativa. Diante de personagens fantasiados, mostre à criança que, por trás da roupa, há uma pessoa comum. “Se persistir o medo, não force a interação”, orienta.

Entre três e quatro anos, ela aprende mais sobre o mundo e a lista de medos tende a crescer, sendo alguns reais e outros imaginários. “Aos quatro anos, ela pode tanto ter medo da perda do seu cachorro como temer fantasmas, dragões e criaturas sobrenaturais. Também é uma fase de repetição dos pais. Quando ela vê a mãe ou o pai reagir com medo de alguma coisa, ela entende que também deve ter medo daquilo”, conta a médica.

Os pais ajudam a entender o que realmente pode ser perigoso e o que é fantasia. Evite, porém, frases como ‘você já é grandinho para ter medo disso’. “Pode afetar sua confiança e o desmotivar a compartilhar seus sentimentos com os pais”.

Entre cinco e seis anos, as crianças ainda não compreendem situações de causa e efeito, como vento, chuva e trovões. Também temem separação, morte e ferimentos.

“Explique o conceito da morte de maneira delicada, mas verdadeira. Permita que a criança se expresse e exponha seus medos. Explique como eventos naturais acontecem, para que ela compreenda que são fatos da vida”. Dos sete aos dezes anos, surgem medo de castigos e de não aceitação pelos pares, assim como de enfrentar situações sem os pais. Nesses casos, aposte no diálogo para tranquilizá-la.







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