O medo foi um sentimento recorrente durante o período da pandemia do covid-19. Se para os adultos já é difícil entender tal emoção, para as crianças – ainda em formação – o desafio pode ser maior.
“O medo é um sentimento comum a todos os seres humanos. A diferença é que os adultos já possuem ferramentas racionais e emocionais para compreender e combater o que sentem, enquanto as crianças ainda não têm”, explica Cristiane Romano, fonoaudióloga, mestre e doutora em Ciências e Expressividade pela Universidade de São Paulo (USP).
“Mesmo que algumas tenham mais facilidade em se expressar e maior preparo emocional, seja pela própria personalidade como por estímulos externos, o momento atual ainda exige atenção redobrada com os pequenos”, alerta.
De acordo com a especialista, mesmo crianças pequenas podem sentir o clima de apreensão e estresse no ar. Assim, é indicado dar espaço e oportunidades para a criança expor, à sua maneira, seus medos, sentimentos e dúvidas. Para isso, ela aponta cinco dicas.
Encontre um momento para uma conversa franca
Se a família está passando por dificuldades, explique a situação com uma linguagem apropriada para a idade da criança. Provavelmente, ela irá fazer perguntas. “Caso haja alguma questão que você não possa ou saiba responder, diga que vai pesquisar e depois contar para ela. Apenas não a deixe sem respostas”, orienta Cristiane.
Você sabe o que seu filho lê ou assiste?
A internet e a TV podem “atrapalhar” a explicação que você deu e pode deixar a criança ainda mais confusa e assustada. Assim, vale a pena pesquisar os conteúdos aos quais a criança está sendo exposta, e criar regras para o uso da televisão e do celular. Caso ela veja ou ouça algo que a perturbe – o que pode acontecer – o primeiro passo é perguntar o que ela entendeu daquela situação. Após deixar que ela expresse seu entendimento com as suas palavras, tente achar uma explicação coerente e adequada à sua capacidade de compreensão.
Valorize o que a criança está sentindo
Quando a criança expressar um sentimento, nada de dizer que é “besteira”, ou que ele ou ela já são “um homem” ou “uma mulher” e não devem ter medo de nada. Mostrar que você entende seus sentimentos fará com que seu filho sempre se sinta à vontade de expor suas emoções a você.
Não interrompa a criança
Quando seu filho te procurar para conversar, espontaneamente, ouça tudo até o final. ”Deixe para emitir suas opiniões somente quando tiver certeza de que ele disse tudo o que precisava”, finaliza.
Não o force
Você notou uma mudança de comportamento no seu filho. Ao questioná-lo, ele diz que “não é nada”. “Nesse caso, pergunte apenas se aconteceu alguma coisa. Se a resposta for negativa, estará claro que ele não quer falar. Assim, não o force”, orienta a profissional. “Diga que, quando quiser conversar, pode te procurar a qualquer hora”, acrescenta. Cristiane ainda indica passar ao longo do dia, duas vezes no quarto da criança. Uma apenas para beijá-la, outra para algum motivo inventado. “Essas atitudes demonstram proximidade e oferecem chances para a criança mudar de ideia e acabar se abrindo”.
