
Nos primeiros meses de vida, algumas mães já observam uma estranheza em seu bebê, que parece não buscar contato visual quando é amamentado ou não se acalenta no colo ou seio materno.
“São bebês que podem ficar por horas quietos, com o olhar ‘perdido’ ou chorar excessivamente e sem motivo aparente. Podem não apresentar sorriso social, não reconhecer o som do seu nome, a voz dos pais ou pessoas próximas e não se importar quando os cuidadores saem do seu campo visual”, resume a neuropediatra, Déborah Kerches.
Esses são alguns dos sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA), uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por prejuízos na comunicação, interação social e associada a comportamentos restritos e repetitivos. São estimados mais de dois milhões de autistas no Brasil e que o transtorno atinja de 1% a 2% da população mundial.
Conhecer suas principais características é essencial para que os pais busquem ajuda especializada logo notem algum dos sinais em seu filho. Eles podem observar, já no primeiro ano de vida, se a criança fica mexendo com as mãos ou dedinhos de forma peculiar; fica fascinada por algo em movimento ou algo que gire (como rodinhas e ventiladores); ou goste de assistir a um único desenho ou filme.
“Nestes primeiros meses, gritos ou sons sem contextos são frequentes, assim como atrasos nos marcos do desenvolvimento motor, como sentar, engatinhar e ficar em pé. Pode andar na ponta dos pés de forma aleatória”, orienta.
A criança pode brincar normalmente, mas, na maioria das vezes, sozinha. “Quando há outra criança ou adulto, até brincam junto, mas não há troca entre eles, não há a procura do outro para brincar. E, algo a se atentar é também a utilização do brinquedo de forma inusitada”, diz a especialista.
A criança que possui TEA podem apresentar dificuldades com linguagem expressiva, como habilidade em apontar, dar “tchau” e outros gestos. O mesmo vale para compreender linguagem corporal, o que está sendo dito, expressões faciais, gírias e piadas. A repetição de palavras ou frases sem função pode ser frequente.
Pode haver sensibilidade exagerada ou baixa relacionadas à visão, audição, olfato, paladar e tato. “São sintomas: comportamentos rígidos como baixa tolerância a frustrações, dificuldades com mudanças de rotina; movimentos repetitivos, ritmados e sem função para quem observa. Mas, para pessoas com autismo, são uma maneira de autorregulação ou auto estimulação”, afirma.
À medida que a criança cresce, as dificuldades na interação social, especialmente com os coleguinhas da mesma idade, vão ficando mais evidente. A escola ou a creche nesta primeira infância passa a ter um papel crucial na identificação da situação.
“Em alguns casos, os sinais não são tão facilmente identificados por serem mais brandos. Há casos, também, em que a criança apresenta um desenvolvimento normal nos primeiros anos de vida, sorri, mantém contato visual, interage, já fala algumas palavras e dá ‘tchau’. Contudo, de repente, os pais relatam que seu filho ficou ‘diferente’, que se fechou em mundo próprio”, completa a neuropediatra.